terça-feira, 28 de março de 2017

A Mente Humana e a Construção da Ética e da Qualidade de Vida Individual e Coletiva

A Criação de Adão é um afresco de 280 cm x 570 cm, pintado por Michelangelo Buonarotti por volta de 1511, que fica no teto da Capela Sistina (Vaticano, Itália). A cena representa um episódio do Livro do Gênesis no qual Deus cria o primeiro homem: Adão.

Dia 21 de Março de 2017 foi o primeiro dia do Curso "Ética, Neuroética e Cidadania Fiscal enquanto Fatores de Promoção do Desenvolvimento Humano e Profissional" promovido pela UEM\PRH\DRH e DCT começando com uma palestra sobre "A Mente Humana e a Construção da Ética e da Qualidade de Vida" com o prof. dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto (Graduado em Enfermagem e Obstetrícia pela Faculdade de Enfermagem e Obstetrícia Dom Domênico, mestre em Ciências, 1986 e doutor em Ciências, 1992 pela USP) com participação do Grupo Abaecatu.

"A neuroética é  o estudo das questões éticas, legais e sociais que surgem quando os achados científicos são levados à prática médica, interpretações legais, saúde e normas sociais que englobam achados no campo da genética, neuroimagens, diagnóstico e previsão de doenças, quer sejam examinadas por médicos, advogados, juízes, seguradoras ou legisladores e o público em geral ao lidar com esses fatos." (Safire W. Visions for a new fiel of 'Neuroethics'. In: Marcus S, editor. Neuroethics: mapping the field. Conference Proceedings; 2002; New York/San Francisco: Dana Press; 2002. p. 3-10)1
Ética é a ciência da moral ou o estudo do que é certo ou errado em uma sociedade, de acordo com os hábitos culturais. O termo moral deriva do latim mores que significa costume. Todo costume que é bem vindo em uma sociedade - como a de escovar os dentes e tomar banho todos os dias no Brasil - é considerado moral. Quando é motivo de repúdio, rejeição, revolta, como o assassinato, então é imoral. No entanto, não é salutar observar a moralidade por um ponto de vista individual porque o que é bom para um, pode não o ser para outro.
  • Ética, o Caminho da Vida por Swami Shivananda Saraswati (download)
Em sua palestra, o prof. Marcílio apresenta as definições de Aristóteles, filósofo grego, que diz que “a Ética é a busca da felicidade para todos” e de Marilena Chauí, filósofa brasileira: “Ética é a educação do nosso caráter, temperamento ou vontade pela razão em busca de uma vida justa, bela e feliz, que estamos destinados por natureza”. Nesse sentido a ética se relaciona com a felicidade pessoal e o bem estar social, entendendo que não é possível ao indivíduo ser feliz em uma sociedade que causa mal estar ou náusea, isto é, que seja imoral, anti-ética ou contrária à justiça.


A Mente e a Ética

A mente não é o cérebro que é o órgão físico mais importante dos seres sencientes e a parte mais desenvolvida do encéfalo, que inclui o cerebelo. A mente é o resultado psíquico dos processamentos eletroquímicos do sistema nervoso em que podemos incluir os 5 sentidos ordinários (visão, audição, olfato, paladar e o tato) bem como a inteligência e a consciência. A mente é o Self, o Eu cuja sede ou morada, segundo o prof. Raul Marino Júnior1, é o cérebro que nos confere a humanidade, a personalidade, a ética, a moral, a distinção entre bom e mau.

A ética é construída socialmente através dos neurônios em espelho (responsáveis pela empatia e noções de moralidade) e o sistema límbico que processa as emoções. Uma das sementes ou gênese moral é o axioma da regra de ouro: não faça aos outros o que você não gostaria que você feito à você, bem como a regra de prata: faça aos outros o que você gostaria que você feito à você. Quando o lobo frontal do cérebro está lesado o indivíduo não consegue processar as forças inibitórias ou de veto sobre ações violentas, incorrendo em assassinatos, abusos etc.

Os primeiros seis anos de formação da criança são fundamentais para a educação ética ou moralmente correta, ou seja, socialmente harmoniosa. Os cuidados afetivos, o carinho dos pais nessa fase, são essenciais para que as sinapses ou conexões neuronais sejam configuradas de modo a formar uma personalidade dócil, empática (capaz de se colocar no lugar do outro) e refrear comportamentos biocidas. Por exemplo, amamentar no peito mantendo o contato dos olhos com a mãe é de grande importância para a aceitação, da conexão entre corações, para a expressão (hétero)afetiva.

Por sorte, nosso cérebro é mutante, capaz de reconfigurar as conexões neuronais. Assim, a meditação acompanhada de instruções éticas, especialmente a do Budismo, como as Quatro Nobres Verdades e do Yoga, como o Vedanta que vêm do sânscrito verdade, são salutares para o bem estar social. O objetivo é fazer com que a pessoa humana entre em contato com seu ser interior e aprenda as melhores formas de se relacionar consigo mesmo. No entanto, é preciso o contato humano e social para que os neurônios em espelho tenham um novo reflexo ou modelo, servindo como canaleta.

Assim, o abraço, o reiki entre outras ações, se tornam retificadores do sistema límbico, desde que o amigo(a) ou terapeuta possuam boa formação moral e saúde em vigor. Este por sua vez, precisa se refugiar muitas vezes em meio à natureza, especialmente no mar, nas praias, em contato com a água salgada do mar. Retiros de yoga e acampamentos são bem vindos. Também, os animais dóceis de estimação, como cães de médio e grande porte são muito importantes para regular a afetividade e ter este contato de amizade e desenvolver o companheirismo. Já os gatos ajudam a desenvolver a independência.

MARINO JÚNIOR, Raul. Neuroética: o cérebro como órgão da ética e da moral. Revista Brasileira de Bioética, 2010; 18: 109-120

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