quinta-feira, 24 de maio de 2012

[OS PENSADORES] Superioridade e Desprendimento do Sábio

Logo no início da faculdade fui levado a me aprofundar nos estudos de filosofia, quando conheci melhor a obra de Lucio Aneu Sêneca, que não faz parte dos grandes nomes como Sócrates e Platão, porém com obra significativa o suficiente para se manter vida ainda hoje. As anotações a seguir foram feitas em meados de maio de 2002 em Maringá/PR. Acredito que seja de valia tomar conhecimento, mesmo que não venhamos por em prática ao pé da letra. Porém, podemos ter uma ideia boa sobre o que é a proatividade e como se prevenir de infortúnios.

Fotografia: Xava Du (Flickr, CreativeCommons)

“É aos espíritos imperfeitos, medíocres e insensatos que convêm as considerações que precedem; não ao sábio. O sábio não precisa dar um passo tímido ou vacilante: sua fé em si mesmo é tão grande que ele não hesita em se dirigir ao encontro da fortuna, diante da qual jamais cederá. Não há nenhuma razão para temê-la, porquanto não são somente seus escravos, suas propriedades, sua situação, mas seu corpo mesmo, seus olhos, suas mãos e tudo o que o prende à vida; porque é a sua pessoa, numa palavra, que conta no número de bens revogáveis, visto que ele vive com a ideia de que seu ser [corpo ou vida] é somente emprestado e está pronto para devolvê-lo de boa vontade, à primeira requisição.”

Morremos vítimas do nosso medo de morrer!

“Aquele que temer a morte não fará jamais obra de homem; mas aquele que disser a si mesmo que, desde o instante em que foi concebido, sua sorte foi decidida, governará sua vida em conformidade com esta decisão; e por prêmio terá a vantagem, graças a este mesmo vigor de alma, de jamais se deixar surpreender por qualquer acontecimento que surja. Considerando antecipadamente tudo o que pode acontecer, como o que realmente irá acontecer, ele amortecerá o choque de todos os males. Pois, para quem está preparado e a espera, a violência de todas as desgraças se abranda; e somente acham seus golpes temíveis os que julgam em segurança e que não tinham diante de si senão perspectivas felizes.

Persuade-te, pois, de que toda situação está sujeita a mudanças e de tudo o que cai sobre os outros pode igualmente cair sobre ti. […] Se não consideras tudo o que te pode acontecer, darás à adversidade forças contra ti; ao contrário, desarma-la-as, quando fores tu que a esperas chegar.”

Fugir a Agitação Estéril

“Em seguida, a primeira coisa a evitar é desperdiçar nosso esforço ou em objetos inúteis ou de maneira inútil: quero dizer, imaginar ambições irrealizáveis ou reparar um pouco tarde, uma vez satisfeito nossos desejos, que nos esforçamos sem proveito. Em outras palavras, evitemos de um lado os esforços estéreis e sem resultado, e de outro lado os resultados desproporcionados ao esforço. Pois é quase certo que nosso humor se entristeça, seja depois de um insucesso, seja depois de um sucesso do qual nos temos de envergonhar. […] Que todo esforço tenha, pois, um alvo preciso e seja apropriado para um resultado.
‘Quem quiser viver com a alma tranquila não deve ter muitas ocupações: nem de ordem particular nem de ordem pública.’ (Demócrito)
Trata-se aqui naturalmente de ocupações inúteis, pois, desde que elas são necessárias, devemos, tanto particulares quanto públicas, ter não somente muitas, mas inúmeras; ao contrário quando nenhum dever imperioso nos ordena, devemos saber reprimir nossa atividade: pois quem multiplica suas ações se expõe a cada instante à sorte. Ora, o mais certo é provocá-la o menos possível, mas pensar nela sem cessar, sem jamais confiar na sua constância. ‘Eu viajarei, se nada impedir. ‘Serei pretor, se nada se opuser. Terei êxito neste negócio, se nada vier em contrário.’

Eis que isto nos leva a dizer que nada acontece ao sábio contra sua expectativa: […] e todas as coisas lhe sucedem não conforme seus desejos, mas conforme suas previsões. Ora, o que ele prevê, antes de tudo, é que os obstáculos podem sempre opor-se aos seus projetos.”

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